“20 Anos”
A música é especialmente necessária em tempos de crise. Na vigésima edição do Festival de Música de Alcobaça, ela une-se à dança e ao teatro para celebrar o longo trajeto de “serviço público” cumprido por este festival desde 1991, graças ao esforço da Academia de Música de Alcobaça e do seu diretor Rui Morais.
Para comemorar, nada mais apropriado que uma ópera desse grande “reformador da ópera” que foi Gluck: “Páris e Helena”, cuja música arrebatadora foi dedicada ao nosso Duque de Lafões, D. João de Bragança, ópera nunca antes representada em Portugal, aqui numa encenação em estreia absoluta da coreógrafa Clara Andermatt.
Depois de um junho especialmente focado na dança e na programação Júnior, julho é um mês intensamente musical, auspiciosamente inaugurado pela Banda de Alcobaça: sob a direção de Rui Carreira, esta é hoje uma das melhores orquestras de sopros a nível nacional, motivo de orgulho para o concelho e para o país, digna herdeira da centenária Real Fanfarra Alcobacense condecorada por D. Carlos e D. Amélia.
A música portuguesa continua a ser uma imagem de marca do Cistermúsica e por isso a polifonia de Duarte Lobo e frei Manuel Cardoso regressa à nave central do Mosteiro pelas vozes da Capella Duriensis, num diálogo entre a renascença, a contemporaneidade e o canto cisterciense. Dois programas se lhe contrapõem celebrando dois génios centrais do período barroco: Handel, confiado ao Ensemble D. João V, e Johann Sebastian Bach, pelas mãos do excelente cravista brasileiro Cristiano Holtz.
A música de câmara e os jovens talentos voltam a ter destaque, a começar pelos laureados do 2.º Concurso de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça”: o muito jovem Duo Liz (flauta e guitarra) e o Simantra Grupo de Percussão, grande vencedor da edição de 2011. Também premiado nesse ano, mas com o Prémio de Interpretação do Estoril, o violinista Otto Pereira tem “carta branca” para um belo programa de violino e piano.
Temos ainda o veterano Quarteto com Piano de Moscovo, que nos traz raridades magníficas de Richard Strauss, Martinu e Armando José Fernandes. Reforçando uma aposta especial na percussão e no reportório contemporâneo, também o ensemble Psapha nos visita, vindo especialmente do México em digressão ibérica.
Finalmente, um grande concerto popular da orquestra Filarmonia das Beiras reune a 5.ª Sinfonia de Schubert e a mais recente sinfonia de Victorino d’Almeida, dirigida pelo próprio, encerrando a edição de 2012 com o mais popular dos “hits” sinfónicos, a “Marcha de Pompa e Circunstância” de Elgar.
Ao fim de duas décadas, o Cistermúsica volta a explorar múltiplos espaços dessa “maravilha de Portugal” e Património da Humanidade que é o Mosteiro de Alcobaça, estendendo-se a vários outros espaços e freguesias do concelho. E, para contrariar a crise, os concertos voltam a ter entrada livre.
Estão todos convidados.
Alexandre Delgado
Diretor Artístico