Festival promove no Cine-Teatro de Alcobaça uma revisão contemporânea do mito de Inês de Castro através de algumas das maiores obras de cineastas como Lars von Trier, Pedro Almodovar, Jerzy Skolimowski ou Mário Barroso
O Cine-Teatro de Alcobaça – João d’Oliva Monteiro estreia no próximo domingo, dia 3 de Julho, mais um ciclo de cinema integrado no Cistermúsica 2011 (repetindo uma parceria já de três anos com a *aurora – rede criativa de cinema), desta vez sob o título “Corpos de Inês”; uma iniciativa que pretende não apenas acompanhar o tema do festival “Em Torno de Inês”, mas que é acima de tudo uma viagem através de um conjunto de obras cinematográficas onde o mito de Inês de Castro – corpo sacrificado pelo amor e pelo amor entronizado à condição da eternidade – foi reinscrito e revisto à luz de grandes narrativas visuais dos últimos anos no mundo da Sétima Arte e sob o signo da contemporaneidade.
A abrir o ciclo, dia 3 de Julho, domingo (os filmes são exibidos sempre às 21h30), temos “Ondas de Paixão” de Lars von Trier, verdadeira obra-prima do provocador cineasta dinamarquês, cuja inquietante história de amor venceu o Grande Prémio do Júri do Festival de Cannes, contando com interpretações brilhantes de Emily Watson e Stellan Skarsgard. Um dia depois, a 4 de Julho, segunda-feira, chega o momento de um filme nacional: “Um Amor de Perdição”, naquela que constitui uma reinterpretação livre e inspirada de uma das maiores obras de Camilo Castelo Branco, um dos escritores fundamentais da literatura portuguesa.
Na semana seguinte, dia 10 de Julho, domingo, tempo para rever um dos grandes filmes do realizador espanhol Pedro Almodovar que se inspirou numa série de factos verídicos para recriar uma incondicional história íntima e romântica que acabaria por arrecadar o Óscar de Melhor Argumento Original: “Fala com Ela”. A terminar o ciclo, dia 11 de Julho, segunda-feira, oportunidade para assistir ao regresso à realização, ao fim de quase vinte anos de ausência, de um dos mais respeitados realizadores do cinema polaco, Jerzy Skolimowski, que em “Quatro Noites com Anna” nos oferece uma obsessiva crónica de amor que abriu em 2008 a Quinzena dos Realizadores em Cannes.
Resta referir que estes são filmes onde a dimensão corporal dos amantes e os seus correspondentes sacrifícios fizeram ascender cada uma das personagens – à imagem de Inês de Castro – a um definitivo e elevado plano de “realeza” e transcendência onde a obsessão pelo corpo feminino é a sua marca principal. Nesta galeria de figuras tão marcadas pela profundidade das suas paixões e pela capacidade de entregarem à natureza de tais forças vivas o seu próprio corpo, carne, sangue e alma, temos oportunidade de ver como em diferentes culturas e línguas, países ou latitudes, o exemplo de Inês de Castro (conduzido ao extremo e pelo excesso) conheceu várias identidades e diferentes visões. Por outras palavras: amores proibidos que pelo delito do seus sentimentos conheceram inevitavelmente a tragédia, como se a tragédia fosse ainda e sempre a coroação de todos esses amores.